No desenvolvimento de software (e aqui incluo todas as áreas relacionadas com isto, desde programadores a gestores), como em tantas outras profissões, a aprendizagem é contínua.
E aprender inclui dois processos complementares, escolher o que aprender de que forma e com quem, ou seja o passo antes do processo de aprendizagem, e saber se aprendemos ou aplicamos corretamente o que aprendemos, ou seja o passo seguinte ao processo de aprendizagem e que é uma espécie de validação do conhecimento.
Começando pelo fim diria que esta necessidade de validação vem também um pouco do típico síndrome de impostor que muitas vezes nos afeta. Será que sou mesmo bom no que faço?
Mas também, parece-me, da maior valorização que se dá por vezes a avaliações externas, quando comparadas com avaliações por parte das pessoas com que estamos dia-a-dia. Costuma-se dizer “santos da casa não fazem milagres” e “ninguém é bom juiz em causa própria” e eu concordo.
Mas interessa-me mais falar do antes, nomeadamente da parte de escolher como aprender. Porque somos todos diferentes e por isso umas formas funcionam melhores para uns que para outros, mas também porque existe de facto essa possibilidade de escolha… há tantas formas de aprender que o mesmo conteúdo pode ser aprendido de diferentes formas.
Academia (Universidade ou similar) – quase que me ia esquecer disto, porque estava mais focado em formas de aprender após o percurso académico, mas mesmo aí continua a ser uma forma de aprender. Claro que há aqueles lugares comuns que nos dizem que na faculdade não aprendemos coisas que usamos no dia-a-dia, ou que se aprendem coisas já desatualizadas, mas, como em tudo, diria que isso se ultrapassa fazendo uma boa seleção de onde vamos aprender. A grande vantagem é que temos um percurso que foi definido, em principio, por quem percebe do assunto e todo o processo de escolha do que aprender, de quais as melhores referencias a usar, melhores exercicios a fazer, poderá já estar feito, o que é uma coisa boa.
Todas as opções seguintes pressupõem uma questão importante e que é a seleção. Ou seja, somos nós que vamos seleccionar o que queremos aprender e com quem. Isso implica um grande conhecimento das nossas necessidades de aprendizagem e qual o melhor caminho para lá chegar, mas também de quem são os melhores autores, professores, comunicadores que nos poderão ajudar a lá chegar.
Tipicamente para ideias de fundo sobre a profissão, eu tendo a valorizar mais quem já está há bastantes anos nesta área, para questões mais operacionais não sou tão seletivo e funciona mais a referência entre pares, ou seja aquilo que colegas me vão referenciando.
Mas passemos a outras formas de aprender
Livros – ainda dentro do que poderiamos chamar de aprendizagem “clássica” temos os livros. Não estou propriamente a falar de livros sobre uma tecnologia em especifico (porque o tempo de vida deles é pouco mais de 6 meses, se tanto), mas de conceitos ou técnicas. Para mim, o facto de ter algo que possa ler, tirar notas e posteriormente rapidamente referenciar ou reler é algo com bastante valor e os livros, nesse aspeto, por serem também algo, por natureza, estático, permitem isso.
Youtube, podcasts – Mas os livros não são seguramente a única forma de aprender. A quantidade de conteúdo disponível no youtube (ou outras plataformas video) ou em podcast é gigantesca, e esta será talvez o principal contra deste meio. Para além disso o facto dessas plataformas viverem do tempo que as pessoas estão nelas leva a que nem sempre o conteúdo aí publicado seja criado numa perspetiva de ensino mas sim numa perspetiva de retenção de quem está a ver. Mas havendo esse trabalho de seleção e escolha inicial, este é para mim um dos meios mais importantes para a minha aprendizagem contínua
Conferencias ou meetups – os livros, youtube ou podcasts têm uma característica importante e que é serem, no essencial, unidirecionais, no sentido de que é alguém a expor algo que nós não conseguimos (pelo menos de forma fácil) questionar. Ou seja, se quisermos esclarecer um ponto, pedir para detalhar outro, pelo menos de forma direta, não o conseguimos fazer. As conferências e meetups são para mim o ponto intermédio entre o não conseguir fazer perguntas dos livros e o ter um professor ou formador a quem podemos fazer perguntas diretas.
A possibilidade de fazer perguntas no fim de uma apresentação (que tipicamente todas as conferencias têm) ou estar fisicamente (quando isso é possível) ao lado de pessoas que fazem o mesmo que nós e dessa forma falar diretamente com elas sobre as nossas duvidas e experiências é algo extremamente precioso e ajuda desde logo a validar muitos dos nossos medos e dúvidas, afinal há muita gente que passa pelos mesmos desafios que nós. E se falarmos em meetups, algo tipicamente mais recorrente, o facto de estar frequentemente com as mesmas pessoas ajuda a criar uma rede que posteriormente pode servir de ajuda.
Slack / fóruns / outras comunidades digitais – parecido com as conferencias e meetups, mas numa perspetiva mais digital, a participação em canais slack, foruns tradicionais ou dentro de plataformas (fb groups ou linkedin) é algo que também permite chegar a conhecimento, embora tipicamente sirva mais não tanto para aprender coisas novas mas para obter referências de novos conteúdos, validar opiniões, trocar ideias.
E-learning – voltando à aprendizagem “pura e dura”, a opção de e-learning, ou seja, um curso, com conteúdos e uma estrutura predefinida, é sem duvida algo importante. O facto de nos permitir aprender quando queremos e como queremos é interessante, mas para mim o facto de ser algo estruturado e preparado por alguém é a característica de maior valia.
Formação interna – como formação interna refiro-me a formação que é dada por outros colegas de trabalho. Este modelo é muito interessante porque consegue atingir diferentes objetivos, nomeadamente partilha de conhecimento dentro da equipa. Para além disso é algo em que não só os formando aprendem mas, tipicamente, o formador também aprende, já que, ao preparar a formação, o nível de conhecimento dessa área tipicamente também aumenta. Há um fator que pode ser menos positivo e que tem a ver com o facto de não ser reconhecida autoridade intelectual à pessoa que está a dar a formação e dessa forma os conteúdos não serem aceites. Outro fator positivo é a possibilidade de interação com o formador e dessa forma conseguir um melhor e mais rapido esclarecimento de duvidas
Formação externa – como formação externa refiro-me a formação que é dada por alguém externo à organização. Normalmente a principal questão aqui é o custo da mesma, não só o valor absoluto da mesma, mas principalmente a relação custo / beneficio que será bastante dificil de determinar antes da realização da mesma.
Code Katas – o conceito de repetir a execução de algo para nos tornarmos bons nisso é algo que é comum a muitas profissões (para além do desporto) e os code katas servem para efeito. Para além disso podem também ser vistos mais dentro do conceito de role play, em que simulamos situações que ainda não vivemos, para as testar e explorar antes de as usarmos.
Pair Programming (Mob, Swarming) – finalmente as práticas de pair programming, mob ou swarming, mesmo sendo diferentes na abordagem, têm uma característica comum e que tem a ver com o facto de ser um trabalho de equipa.
Ou seja, é um modelo onde a partilha e troca de ideias e a característica fundamental do processo. Isto, para além de potenciar a troca de conhecimento promove também o relacionamento humano entre os participantes, algo que é também muito relevante.
Todas estas formas de aprendizagem têm prós e contras, vão mais de encontro a umas personalidades do que a outras, umas propiciam mais conhecimento de curto-prazo outras mais de longo-prazo, e, em determinadas alturas da nossa vida fazem mais sentido umas que outras.
Uma coisa é certa, atualmente, não é por falta de conteúdo que não conseguimos aprender este tipo de competências técnicas (hard-skills).
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